Ferrovias de Minas fora de plano de investimento
Berço do sistema ferroviário de carga no Brasil, com 17% de toda
a malha em atividade no país, Minas Gerais está fora dos planos do
governo para expansão das linhas existentes, apesar da demanda apertada
do serviço. Sem grandes projetos de novas ferrovias, as operadoras
privadas do setor no estado anunciam investimentos concentrados na
melhoria das vias atuais, incluindo alguns casos de duplicação de
trechos, e na compra de locomotivas mais eficientes e vagões, sempre
empenhadas em aumentar a produtividade para atender clientes em
crescimento das indústrias da mineração, siderurgia e do agronegócio.
Os recursos previstos devem chegar a R$ 1,8 bilhão este ano, somados o
desembolso recorde de R$ 1,585 bilhão da MRS Logística, concessionária
da antiga malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal, que atua em Minas,
São Paulo e Rio de Janeiro, e parcela dos projetos da Vale, companhia
controladora de duas ferrovias que cortam o estado, a Centro-Atlântica
(FCA) e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). O transporte de carga
cresceu 5 milhões de toneladas no país no ano passado, alcançando 475,1
milhões de toneladas úteis (descontado o peso dos vagões) de carga
transportada. O aumento de 1,2% frente a 2010, segundo o levantamento
divulgado pela Associação Nacional de Transportadores Ferroviários
(ANTF), é aparentemente modesto para a intenção das empresas.
O desafio não se resume a oferecer mais capacidade de transporte a
esses clientes sem que as próprias operadoras construam mais linhas
férreas, mas, além disso, retirar as cargas que tradicionalmente
circulam pelo asfalto, reconhece o presidente da MRS Logística, Eduardo
Parente. “Queremos crescer mais que a economia brasileira e roubar as
cargas do caminhão”, afirma. O alto custo dos grandes projetos de
extensão de ferrovias, de fato, pôs o recurso público como necessidade
para o país, e as operadoras argumentam que os contratos de concessões
não preveem investimentos com essa finalidade.
O ponto crítico da falta de investimentos em novas ferrovias está na
rentabilidade, concorda Jamil Moysés, coordenador do MBA em Logística da
Fundação Getulio Vargas/IBS Business School. “De modo geral, o
empresário coloca o dinheiro dele quando vê garantia de retorno”,
pondera. Na avaliação do especialista, a falta de ferrovias e
interligações de trechos que seriam importantes para o país não consiste
um problema isolado. Faz parte do drama da infraestrutura ineficiente e
insuficiente no Brasil.
“Ficamos muito tempo sem investimentos consistentes em todo tipo de
infraestrutura. O país é como se fosse uma casa sem manutenção e no
momento que o governo começa a liberar recursos, não é só de ferrovias
que precisamos, mas de tudo, de portos e rodovias também”, afirma Jamil
Moysés. O governo federal está conduzindo dois projetos de ferrovias, a
Oeste-Leste, que passa pelos estados de Tocantins e da Bahia; e a
extensão da Norte-Sul, ligando os estados de Goiás e São Paulo, com
previsão de conclusão em 2013 e 2014, respectivamente.
Em recente entrevista ao Estado de Minas, o diretor-executivo da
ANTF, Rodrigo Vilaça, disse que no período de 15 anos completos das
concessões da malha da extinta Rede Ferroviária Federal ao setor
privado, as operadoras investiram R$ 28 bilhões, no entanto, admite que
ainda foi pouco. “O setor agiu, mas é preciso fazer muito mais. O
problema está na malha existente e o governo não tem dinheiro”, afirma.
Nas estimativas da ANTF, o modal ferroviário já deveria ter atingido uma
participação ao redor de 30% da matriz de transporte do Brasil, em
lugar dos atuais 25,2%. A meta é que ela chegue a 40% em 2022.
Desde 1996, primeiro ano da concessão, de acordo com o presidente da
MRS Logística, a operadora bancou mais de 200 quilômetros de duplicação
de linhas, ao longo dos 1,643 mil km que assumiu, e comprou locomotivas
mais modernas. “Investimos quando há retorno e temos segurança, como faz
qualquer empresa privada”, diz Eduardo Parente. A empresa receberá este
ano 20 locomotivas produzidas pela multinacional GE Transportation em
Contagem, na Grande Belo Horizonte, e quatro máquinas fabricadas pela
suíça Stadler. Em material rodante, encomendou 200 vagões, metade deles
de fabricação da Usiminas Mecânica. O transporte de carga evoluiu de 46
milhões de toneladas em 1996 para 152 milhões de toneladas no ano
passado.
Na disputa com caminhões
Tornar as linhas férreas mais eficientes significa, para as
operadoras privadas, ganhar condições de roubar a carga dos caminhões. A
chamada carga geral, acondicionada em contêineres e típica das
rodovias, não chega a representar 3% da movimentação sobre os trilhos no
Brasil. São alimentos industrializados, papel, tratores e componentes e
peças para automóveis, produtos que o trem só começou a disputar. No
transporte ferroviário tradicional, minérios e carvão continuam a
dominar, com 76,6% do total transportado, seguidos de grãos como soja,
açúcar e álcool, com 11,5%, e dos produtos siderúrgicos, 3,77%.
Ao todo, as empresas investiram R$ 4,6 bilhões no ano passado, e o
governo federal, R$ 143 milhões. Segundo Rodrigo Vilaça, da ANTF, a
cifra superou de forma expressiva a meta (de R$ 3 bilhões). A previsão
para este ano é de inversões de R$ 5,3 bilhões. Representantes do setor
pediram à presidente Dilma Rousseff que ele seja contemplado com as
medidas adotadas para reanimar a indústria, a desoneração da folha de
pagamento e a abertura de linhas especiais de financiamento para
aquisição de máquinas e equipamentos e matérias-primas.
A Vale informou que está duplicando o trecho da Estrada de Ferro
Vitória a Minas (EFVM) nas áreas rurais de São Gonçalo do Rio Abaixo,
Barão de Cocais e Santa Bárbara, na Região Central de Minas, em um total
de 24 quilômetros. O objetivo da companhia é aumentar a capacidade do
transporte para atender a demanda futura tanto de minério de ferro,
quanto de produtos de carga geral. Outro projeto tocado pela companhia,
com orçamento de R$ 215 milhões, é a retificação e duplicação de mais de
8 mil quilômetros de linha da Ferrovia Centro-Atlântica em Belo
Horizonte e Sabará, entre os bairros do Horto, na capital, e General
Carneiro, na cidade histórica. A região é um gargalo, ponto de
interligação de três ferrovias, a FCA e a EFVM e a MRS Logística.
O investimento anunciado pela MRS é o maior da história da companhia,
destaca o presidente da empresa, Eduardo Parente. Cerca de dois terços
do volume de R$ 1,585 bilhão previsto serão executados em Minas. Boa
parte dos recursos acompanha a expansão das mineradoras no estado,
clientes preferenciais das ferrovias. Prometem aumentar também as
demandas de produtos siderúrgicos e grãos. A MRS tem como acionistas as
siderúrgicas Companhia Siderúrgica Nacional, Gerdau e Usiminas e a Vale.
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