Milton Paes
CAMPINAS
- "Estão tratando doente terminal com Band Aid e Melhoral. Ninguém vai
fundo na crise de internar esse doente numa UTI e fazer o que tem que
ser feito". Essa foi a expressão utilizada pelo diretor titular do
Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) regional Campinas,
José Nunes Filho, para resumir a situação caótica enfrentada pela indústria na região de Campinas e no Brasil.
A sondagem industrial realizada pelo Centro de Pesquisas Econômicas da
Faculdades de Campinas (Facamp) em parceria com o Ciesp Campinas
referente ao mês de julho reflete a situação enfrentada pela indústria
da Região Metropolitana de Campinas.
De acordo com o levantamento, os dados conseguiram delinear um balanço
da atividade industrial no primeiro semestre de 2012. A pesquisa
identificou através dos indicadores que a indústria regional passa por
um momento difícil somente comparável com o primeiro semestre de 2009,
momento em que a economia brasileira sentia os impactos da crise
econômica deflagrada no final de 2008. No caso de indicadores como o de
vendas e de lucratividade trazem números ainda mais negativos em relação
ao primeiro semestre de 2009.
A queda da utilização da capacidade
instalada de produção, redução na disposição para novos investimentos e
o crescimento exponencial da inadimplência refletem que a retomada da
produção industrial poderá demorar muito mais do que era esperado.
Os dados referentes à capacidade instalada de produção mostram que no
primeiro semestre dos anos de 2010 e 2011 havia aproximadamente 60% das
empresas operando com mais de 50% da capacidade instalada de produção.
No primeiro semestre de 2012 este índice caiu para 45%. Considerando
apenas o percentual de empresas que operavam utilizando mais de 80% da
capacidade instalada de produção no primeiro semestre de 2011 que era de
29,1%, no primeiro semestre deste ano este percentual caiu para 14,7%.
Os índices mostram as incertezas em relação ao futuro da economia
brasileira e impactam diretamente na disposição para novos
investimentos. O primeiro semestre de 2012 só não é pior em relação ao
mesmo período de 2009 porque naquele ano só 3,6% apontaram aumento dos
investimentos planejados. Houve um crescimento de 10 pontos percentuais
no número de empresas que não irá investir
na base de comparação entre os primeiros semestres de 2011 e 2012. No
primeiro semestre de 2011 o índice de empresas que não iriam investir
era de 25,6% e no mesmo período o percentual foi a 34,8%.
As vendas apresentaram no primeiro semestre de 2012 um desempenho pior
em relação ao mesmo período dos anos anteriores. Para 44% dos
entrevistados houve redução nas vendas, número 9,8 pontos percentuais
maior ao verificado no mesmo período de 2011. No primeiro semestre de
2012 foi registrado o pior resultado em termos de aumento de vendas dos
últimos quatro anos: 19,9%, 8 pontos percentuais inferior a 2009.
A lucratividade industrial também apresentou o pior desempenho para o
primeiro semestre dos últimos quatro anos. A sondagem apontou que 46,3%
dos respondentes acusaram redução nas taxas de lucratividade. No
primeiro semestre de 2011, esse percentual era de 36,5%. A inadimplência
teve aumento expressivo referente ao primeiro semestre dos últimos três
anos. No primeiro semestre de 2010 era de 12,8% dos que responderam
aumento da inadimplência. No primeiro semestre de 2011, esse percentual
subiu para 31,9% e no primeiro semestre deste ano passou para 37,9%.
Para o diretor titular do Ciesp Campinas, José Nunes Filho, em função
desse quadro que está sendo registrado na região não há perspectiva de
sair dessa estagnação. "A estagnação deve continuar porque as medidas
que o governo tomou foram paliativas. Não adianta liberar mais crédito
ou baixar taxa de juros agora, porque é muito tarde. O povo está
endividado, tanto que o nível de inadimplência subiu muito e com as
medidas que foram tomadas em 2008 de liberação de crédito e de
desonerações parciais e pontuais, o povo comprou automóveis em 60 meses e
está pagando ainda, então não pode comprar outro. Quem comprou a linha
branca como fogão e geladeira não vai comprar de novo. O que precisa é
aumentar a competitividade da indústria e isso é uma coisa de base. Isso
deveria estar sendo feito nos últimos 10 ou 12 anos e não foi feito",
critica.
25/07/2012 - 00h00 | Atualizado em 25/07/2012 - 00h09
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