terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crise leva indústria de Campinas à UTI


Milton Paes
CAMPINAS - "Estão tratando doente terminal com Band Aid e Melhoral. Ninguém vai fundo na crise de internar esse doente numa UTI e fazer o que tem que ser feito". Essa foi a expressão utilizada pelo diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) regional Campinas, José Nunes Filho, para resumir a situação caótica enfrentada pela indústria na região de Campinas e no Brasil.

A sondagem industrial realizada pelo Centro de Pesquisas Econômicas da Faculdades de Campinas (Facamp) em parceria com o Ciesp Campinas referente ao mês de julho reflete a situação enfrentada pela indústria da Região Metropolitana de Campinas.

De acordo com o levantamento, os dados conseguiram delinear um balanço da atividade industrial no primeiro semestre de 2012. A pesquisa identificou através dos indicadores que a indústria regional passa por um momento difícil somente comparável com o primeiro semestre de 2009, momento em que a economia brasileira sentia os impactos da crise econômica deflagrada no final de 2008. No caso de indicadores como o de vendas e de lucratividade trazem números ainda mais negativos em relação ao primeiro semestre de 2009.

A queda da utilização da capacidade instalada de produção, redução na disposição para novos investimentos e o crescimento exponencial da inadimplência refletem que a retomada da produção industrial poderá demorar muito mais do que era esperado.

Os dados referentes à capacidade instalada de produção mostram que no primeiro semestre dos anos de 2010 e 2011 havia aproximadamente 60% das empresas operando com mais de 50% da capacidade instalada de produção. No primeiro semestre de 2012 este índice caiu para 45%. Considerando apenas o percentual de empresas que operavam utilizando mais de 80% da capacidade instalada de produção no primeiro semestre de 2011 que era de 29,1%, no primeiro semestre deste ano este percentual caiu para 14,7%. Os índices mostram as incertezas em relação ao futuro da economia brasileira e impactam diretamente na disposição para novos investimentos. O primeiro semestre de 2012 só não é pior em relação ao mesmo período de 2009 porque naquele ano só 3,6% apontaram aumento dos investimentos planejados. Houve um crescimento de 10 pontos percentuais no número de empresas que não irá investir na base de comparação entre os primeiros semestres de 2011 e 2012. No primeiro semestre de 2011 o índice de empresas que não iriam investir era de 25,6% e no mesmo período o percentual foi a 34,8%.

As vendas apresentaram no primeiro semestre de 2012 um desempenho pior em relação ao mesmo período dos anos anteriores. Para 44% dos entrevistados houve redução nas vendas, número 9,8 pontos percentuais maior ao verificado no mesmo período de 2011. No primeiro semestre de 2012 foi registrado o pior resultado em termos de aumento de vendas dos últimos quatro anos: 19,9%, 8 pontos percentuais inferior a 2009.

A lucratividade industrial também apresentou o pior desempenho para o primeiro semestre dos últimos quatro anos. A sondagem apontou que 46,3% dos respondentes acusaram redução nas taxas de lucratividade. No primeiro semestre de 2011, esse percentual era de 36,5%. A inadimplência teve aumento expressivo referente ao primeiro semestre dos últimos três anos. No primeiro semestre de 2010 era de 12,8% dos que responderam aumento da inadimplência. No primeiro semestre de 2011, esse percentual subiu para 31,9% e no primeiro semestre deste ano passou para 37,9%.

Para o diretor titular do Ciesp Campinas, José Nunes Filho, em função desse quadro que está sendo registrado na região não há perspectiva de sair dessa estagnação. "A estagnação deve continuar porque as medidas que o governo tomou foram paliativas. Não adianta liberar mais crédito ou baixar taxa de juros agora, porque é muito tarde. O povo está endividado, tanto que o nível de inadimplência subiu muito e com as medidas que foram tomadas em 2008 de liberação de crédito e de desonerações parciais e pontuais, o povo comprou automóveis em 60 meses e está pagando ainda, então não pode comprar outro. Quem comprou a linha branca como fogão e geladeira não vai comprar de novo. O que precisa é aumentar a competitividade da indústria e isso é uma coisa de base. Isso deveria estar sendo feito nos últimos 10 ou 12 anos e não foi feito", critica.

DCI


25/07/2012 - 00h00 | Atualizado em 25/07/2012 - 00h09 

Nenhum comentário:

Postar um comentário